domingo, 30 de agosto de 2009

Boleiros

Cê tem que parar a bola, dominar ela assim... passa a bola pro cara mais bem colocado para finalizar a jogada... Aconselham os que entendem de futebol. Ora, eles devem ter domínio total dos fundamentos do esporte. E falam com a segurança típica de quem sabe o que fala. Com a maior naturalidade.

Não questiono a habilidade de alguns deles, não obstante a vida não lhes tenha premiado com um lugar ao sol na esfera dos craques profissionais.

A maneira que falam e se comportam é parecida com a postura da neta que reserva junto à família um emprego pro namorado no Senado onde o avô é presidente. A moça nasceu e cresceu numa casta de privilegiados. No caso dela, não faz distinção alguma entre o privado e o público. Nem lhe passa pela cabeça haver algum problema nisso.

No caso deles – os boleiros, nada mais lógico: há os que sabem jogar e os que não sabem jogar. Boleiros sempre se incluem na primeira categoria. (Eu, definitivamente, sou da segunda. E do segundo quadro – quando há jogo contra.)

A crítica ao passe errado, ao chute torto dos mais fracos, vem ferrenha por parte de alguns. Há, porem a sutiliza de alguns outros quando este aqui se manifesta: “até” passo a bola pra você... nunca deixei de cruzar a bola “pra você”... olha o detalhe do “até”, do “pra você”. É uma arroganciazinha quase inocente. Eles, normalmente não seriam capazes de passar-me a bola, de incluir-me na jogada, claro. No entanto, têm espírito esportivo e acham que todos tem que jogar. Hahaa!

Pra que complicar? As pessoas ficam fazendo tempestade num copo de água...
As quatro linhas compõem o palco de suas realizações. É lá que os titãs se digladiam. O componente lúdico, a brincadeira, tem pouca ou nenhuma importância para eles, os boleiros.
Até toleram os grossos dentro de campo. Desde que não atrapalhem suas jogadas geniais, seus toques refinados, suas descidas em velocidade.

Lembra-me a história daquele enxadrista excêntrico. Detestava jogar com quem não sabia jogar. Restringiu tanto o nível de competência de seus adversários que ficou louco e no crepúsculo da vida costumava desafiar Deus dando-lhe dois peões de vantagem pra começar o jogo.

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